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Por: Carlos Carvalho
Estando de volta a “vida activa”, e por cobrança de muitos dos meus leitores… havia decidido trazer-vos esta, como minha primeira reflexão.
Entretanto, tive que abandonar essa pretensão por entender que havia coisas mais importantes as quais deveria me dedicar.
Pois!! De tanto adiar, aqui estou.
Nbai nha utru-terra. Depois de mais de uns largos anos.
Fui para uma nobre missão que aproveito para vos trazer a substância!!
INTROITO
Trata-se de participar num projecto patrocinado pela Fundação Amílcar Cabral – FAC – e a Presidência da República de Angola.
O patrono é também o Presidente da FAC, Presidente-Comandante Pedro Pires.
O projecto é a escrita da História da Luta de Libertação dos PALOP.
Para o efeito, cada país criou uma equipa, essencialmente constituída por historiadores que, duma forma ou doutra, estudaram ou vêm estudando a problemática da Luta de Libertação nos PALOP.
Semestralmente, as Equipas se reúnem para Reuniões Metodológicas, nas quais são feitas o “Estado da Arte” do projecto, se corrigem, traçam ou se concertam novos rumos.
Entretanto, quinzenalmente ou mensalmente, as Direcções dos projectos, o Conselho Científico ou as Equipas todas se reúnem para reuniões normais de seguimento.
Desta vez, coube a nossos irmãos-de-sangue a organização da Reunião Metodológica.
É neste quadro que regressei a minha-outra-terra.
NA TERRA
Há muito programara ir a minha-outra-terra com o objectivo de apresentar o livro de um dos protagonistas dessa luta, na sua vertente clandestina.
Efectivamente, desde 2020, ano “danado” por aquele senhor, o Sr. COVID-19, que devia ir fazer a apresentação.
Não fui por causa do “Senhor”!!
Mas, também não fui por cobardia!! Sim!! Fiquei com medo de ir e cair nas rédeas de gente que “sota” desalmadamente e às vezes até tiro dá, em quem lhes critica.
Fui cobarde!!
Não fui como meu pai que não temia nem a famosa PIDE!!
Chegados, nos instalaram num hotel na avenida principal da cidade…cidade que conheço de cor e salteado!!
A avenida sofreu uma grande intervenção, pelo menos ficou sem os buracos que a caracterizava. Uma intervenção cuja substância fiquei sem entender de sua bondade. Descaracterizou-se a grande avenida deixada pelos tugas.
A cidade de Bissau é de facto bela!!
Ruas largas, grandes árvores fruteiras “bordeando-as”; é um prazer passear pelas ruas da cidade. Edifícios públicos e privados emblemáticos coabitam, a Igreja-Matriz de Nossa Senhora da Candelária, onde quase seria baptizado.
E…a famosa UDIB!! Um dos edifícios mais significativos da Avenida, sede do, no passado, grande clube de futebol, onde todos vimos os filmes pela 1ª vez e onde actuaram nomes e conjuntos sonantes de nossa música: Bana, os Tubarões do Chindo e do Ildo, os Kings, entre outros.
UDIB, hoje, é uma caricatura da do tempo colonial
AMURA
Ainda sobre o património, fomos levados a visitar a monumental Fortaleza da Amura, construída com mão-de-obra e matéria-prima também levadas daqui das ilhas, para a defesa da cidade. Nela se encontram o Mausoléu Amílcar Cabral e os restos mortais dalgumas figuras da história-da-luta. E, la tanbi ten Museu Militar, constituído essencialmente por armamento militar do PAIGC, di tenpu di luta.
Fosse eu daria outra dimensão ao Museu, cuja peça maior, para mim, é a famosa Wolksvagen na qual viajava Cabral quando foi assassinado, no fatídico 20 de Janeiro.
Bissau é uma cidade espectacular, ten-ba tudu pá ser PM!
Má é danal!!
Em tempos, Zé Manel pidi pá pelo menus pa disalba sima tugas dixal!!
Parte da cidade está, hoje, em obras de reabilitação, com excesso, retirando a originalidade, com ciência, que os tugas deixaram!!
POLITICA
Para não variar, minha-outra-terra continua marcando passo.
Nada funciona!! Aliás, so funciona uma coisa…o Chefe-Maximo!!
Faz chover…faz solar…dá pão-pau-xicote…gás!!
Bate governo…nen mancara ca ta kebra!!
Bate parlamento…nen mancara ca ta kebra!!
Tira justiça…põe in-justiça
Inventa golpes
Ou dão-lhe golpes
Que ninguém prova…se houve…ou não houve
Prende golpistas…ou supostos golpistas…mancara kila ca ta kebra
Marca eleições…desmarca…marca….desmarca
Nin mancara ca ta kebra!!
Tira Partido aos donos-do-partido
Dá Partido a quem quer
Manda todo o mundo rodja
Todo o mundo…rodja mé
Nin mancara ca ta kebra!!
Na minha-outra-terra…so um galo canta!!
Galo gó…ca mutu tamanhu!!
Tral bengala; bengala=tropas
É ca ta briga nen k pinton
Ma tudu Omi-matxu…k caba dja na nha-utru-terra…ten medo di General.
FORÇA E PODER
Num pós-reunião, fiquei à porta do hotel.
De repente, vi uma “caravana” passar.
Motos, veículos militares, tanques…tubupu di militares armados até aos dentes!!
Pensei!! Pronto, CC!!! Já apanhaste mais um golpe na tua terra.
Naaaaaoooooo!!!
Não era guerra…nem golpe…nem coisíssima alguma!!!
O guardião do hotel tirou-me a duvida esclarecendo…
– I Chefe k ná passa!!
– Xefi!!!??
– Sim!!
– Nunca n’odja bá cusá igual, disse-lhe!!! Na minha-outra-terra, Prizidentis ta bai toma café a pé!!!
OS “BURMEDJUS”
É mais para este assunto que vim desta vez!!
Na minha-outra-terra ten un duensa k txoma, Burmedjisa.
Burmedjisa é un duensa hereditariu-stranhu.
É resultado de djunson di branco k preto…oras bu ta sai branco-fandan; oras pretu-noc; oras bu ta sai burmedju.
É assim que nasce a “raça” dos Burmedjus.
Burmedju é, portanto, nen branco-nen preto.
Os Burmedjus sempre estiveram presentes na história de minha-outra-terra.
Para o bem; para o mal!!
Mais para o mal, infelizmente!!
Eram-ba o motivo de todas as desgraças da Terra-de-Cabral.
Foram os Burmedjus os culpados de todos os problemas.
Estiveram em tudo.
Administraram-julgaram-açoitaram-mataram…
Enfim!! Eram o braço-direito do colon em tudo.
Spínola jogou muito bem com os Burmedjus na administração da ex-colónia.
Levou a morte de Amílcar, mais um burmedju…que tão-somente quis ser: “Um Africano que quis saldar sua dívida para com o seu povo e viver sua época”.
A CASSETE
Introduzo este estranho subtítulo, história real de nossa luta, para evidenciar, doutra forma, o papel dos “Burmedjus”.
Trata-se das cassetes com as gravações dos implicados no bárbaro assassinato de nosso herói-maior. Cassetes que supostamente não existiam nas terras de Cabral, mas existiram mesmo; circularam pelas duas terras, informações da insuspeita viúva do herói. Segundo Ana Maria, a quem foi confiada as cassetes, cansou de as ouvir, pois, todos os depoimentos iam no sentido de acusar os Burmedjus pelos males da luta e que conduziram ao assassinato do líder.
LUIS CABRAL
O 1° Presidente da Guiné foi vítima de um golpe por ser Burmedju.
Desde essa altura, a Guiné transformou-se no que é hoje.
OS BURMEDJUS-HOJE
Culpados de tudo o que de mal acontecia na Terra-de-Cabral, é com espanto que se constata que quem manda na Guiné, hoje, é de novo um Burmedju. Pior!!
Ele diz alto e bom som:
– Ami i criston; ami i cabrianu.
Él i di un conhecido família di li, os Macedo.
O sujeitinho manda mesmo!!
Ele é o Chefe dos Polícias, Secretário de Estado da Ordem Pública, k tá poi ordi propi!! k “sotan”, lançam gases contra comum cidadão-guineense; i tá ndjata=gaba-se:
– Kin k brinca na manda prindi; na suta.
E o Ditador confirma:
– Kin k brinca, ali Zé Carlos li!!
Significando que o carrasco da Guiné-de-hoje é…paradoxalmente ou não… um Burmedju.
14 de NOVEMBRO
Uma lembrança ao Burmedju-Novo-Dono-Carrasco da Guiné.
Literalmente há 44 anos ocorria o Golpe que destituiu Luís Cabral.
Do golpe, resultaram somente duas mortes!!
Infelizmente, os dois mortos eram “Burmedjus”!!
Por acaso, segundo Ana Maria, as famosas cassetes estavam nas mãos de um dos mortos.
Só…Estranhas coincidências!!!
13/11/2024.
PS:
Como vêm, o artigo foi escrito há já algum tempo, mas ainda é actual.
Estou “trabalhando” no delicado assunto “Cassetes”. Um dia, se o Senhor assim quiser, lerão sobre elas.