Em Cabinda, província norte de Angola, é cada vez mais evidente o perigo que as valas de drenagem representam para a sociedade quando chove. O incidente mais recente sucedeu na comuna de Tando Nzinze, município de Cabinda, onde cinco crianças morreram vítimas de afogamento num poço de água, com uma profundidade de três metros, com quatro de largura.
Com idades entre 6 e 12 anos, as crianças decidiram mergulhar no poço escavado por uma empresa de construção civil que está a realizar trabalhos na localidade no âmbito do projeto da cadeia de valores. Em declarações à DW, o jurista Domingos João Marques disse não ter dúvidas que a negligência da empresa foi a principal causa da ocorrência.
É preciso “aferir se eventualmente houve ou não a observância das medidas de segurança que a empresa deveria estabelecer no sentido de evitar esse incidente”, defendeu o jurista.
Depois do incidente, foram acionados os contactos com as autoridades. Eunice Adom, administradora comunal, reagiu ao que aconteceu às crianças, todas de sexo masculino, duas delas da mesma mãe.
“São obras que estão a decorrer naquele troço. É distante da aldeia. Ou seja, [fica a] três quilómetros. Por isso não há motivos para responsabilizar a empresa, porque é muito distante”, afirmou a administradora.
A cidade de Cabinda e a maior parte dos bairros da zona baixa têm sido fortemente fustigadas por grandes camadas de areia e de resíduos sólidos arrastados pela corrente das águas da chuva, tudo por conta das construções anárquicas.
Apesar de muitas valas permitirem a evacuação da água das chuvas e não só, muitas delas nunca foram reparadas. Tais valas, inclusive, encontram-se a céu aberto e têm maior probabilidade de causar morte, sobretudo nesta época chuvosa.
Realojamento em zonas mais seguras
Um cidadão de 39 anos de idade sofreu um acidente numa vala aberta no Bairro Amílcar Cabral quando retornava à escola, revelou José António, uma das testemunhas.
“Quem não conhece [o local], é mais suscetível de ser surpreendido. Alguém já partiu o braço e outra também já partiu a perna [ali]”, relata.
Em função desta realidade, está em curso um processo de realojamento de algumas famílias para zonas mais seguras, cujas casas estão no perímetro considerado de risco, como garante a governadora de Cabinda, Suzana Abreu.
A responsável ameaça tomar medidas mais drásticas, em caso de desobediência. “Já foram identificadas residências construídas exatamente nas linhas de água, que acabam por obstruir e fazer com que a água não encontre caminho [para escorrer]”, afirmou. “Umas das medidas, se for mesmo necessário, [será] demolir as residências”, prometeu a governadora.
Os últimos dados das autoridades de Cabinda apontam existirem, pelo menos, 70 famílias que vivem em zonas de risco, onde as valas de drenagem são um autêntico perigo.