O banco de origem russa, VTB África, pode ser a próxima instituição bancária a deixar o sistema financeiro angolano, uma vez que segundo o governador do Banco Nacional de Angola (BNA), está em “análise a continuidade ou não” da operação do banco no mercado bancário nacional. Em causa está o aumento de capital exido pelo banco central, já que desde 2022 que o banco não consegue garantir o mínimo de 15 mil milhões Kz.
“O VTB ainda não o fez [aumento de capital] porque o que está em análise é a continuidade ou não da operação do VTB no mercado bancário angolano”, disse o governador do banco central, Tiago Dias, afirmando que “é um tema que está a ser apreciado pelos próprios accionistas do VTB”, e que o BNA vai continuar a acompanhar.
O facto é que as sanções impostas à Rússia dificultaram as operações das instituições financeiras russas espalhadas pelo mundo, já que muitas delas não conseguem fazer transferências em dólares ou em euros, o que, por um lado, acabou por dificultar também as operações do VTB em Angola, que estão muito ligadas ao negócio dos diamantes.
A título de exemplo, as sanções à Rússia provocaram problemas à multinacional russa da Alrosa, sócia na Sociedade Mineira de Catota, que já apresentou dificuldades para movimentar capital para fora de Angola, nomeadamente a transferência de dividendos, mas também o pagamento de salários em moeda estrangeira a trabalhadores de nacionalidade russa e de fornecedores estrangeiros de equipamentos e serviços. Até ao início da guerra na Ucrânia, essas transferências eram feitas através da sucursal em Luanda do banco russo VTB que, entretanto, está afastado do sistema Swift e, por isso, não pode transaccionar em dólares ou euros. Estas dificuldades acontecem desde o 2022 e, ao que o Expansão apurou, a multinacional tentou outras vias, como o recurso ao VTB na África do Sul, que acabaram por não dar resultados.
O banco central determinou no aviso n.º 17/2022, de 5 de Outubro que os accionistas dos bancos comerciais em actividade estavam obrigados a ajustar o capital social regulamentar até 05 de Outubro de 2023.
No entanto, o banco continua a operar com um capital social avaliado em 7,5 mil milhões Kz, abaixo do mínimo de 15 mil milhões Kz exigido pelo banco central. Contas feitas, já se passaram 15 meses e o banco ainda não o ajuste regulatório.
Prejuízos de 670,3 milhões Kz em 2024
Em 2024, de acordo com o balancete do IV trimestre, o VTB África voltou a registar prejuízos ao contabilizar um resultado líquido negativo de 670,3 milhões. Ainda assim, este resultado melhorou face ao prejuízo de 2.477,7 milhões registados em 2023. O activo do banco cresceu 3% para 137,0 mil milhões Kz, suportado pelo crescimento das aplicações de liquidez (+52%) e dos outros activos (220%). No entanto, os investimentos em títulos de dívida pública caíram 42% para 5,8 mil milhões Kz, e o crédito a clientes afundou 53% para 4,2 mil milhões (menos 4,7 mil milhões face ao exercício de 2023).
O passivo do banco também cresceu ao passar de 124,9 mil milhões Kz para 129,8 mil milhões, o que justifica o crescimento dos depósitos na ordem dos 6% para 120,5 mil milhões Kz. Já os fundos próprios fixam- -se em 7,9 mil milhões Kz.
O banco que iniciou aas actividades em Angola em 2006 tem como accionistas o VTB Moscovo (o segundo maior banco da Rússia) e António Sumbula com 50,1% e 49,9%, respectivamente. O banco ainda não publicou o relatório e contas de 2023.