A Jusfy — uma startup que está tentando criar uma espécie de sistema operacional dos advogados — acaba de levantar uma rodada para expandir sua oferta de produtos e ganhar escala, com a meta de dobrar sua base de usuários para 60 mil advogados até o final do ano.
A rodada pre-Series A foi liderada pela SaaSholic, a gestora que já havia investido na Jusfy como seed capital, e pela Maya Capital, que entrou agora no captable.
A captação também teve a participação da Norte Ventures e deu entrada a outros dois novos investidores: a FJ Labs e o The Legal Tech Fund, uma gestora de VC americana que só investe em legaltechs.
A rodada avaliou a companhia em cerca de US$ 30 milhões, o equivalente a R$ 180 milhões.
Fundada em 2021 por Rafael Bagolin, um advogado do interior do Rio Grande do Sul, a Jusfy começou oferecendo calculadoras e ferramentas que ajudam o dia a dia dos advogados. Uma, por exemplo, calcula os valores devidos de pensão alimentícia, enquanto outra faz o cálculo de contratos bancários. Outra ferramenta ajuda na busca de jurisprudência em todos os tribunais do Brasil.
Mais recentemente, no entanto, a companhia lançou o JusProcessos, uma ferramenta de gerenciamento do workflow dos escritórios; e o JusGPT, uma IA que promete resolver todas as dúvidas dos advogados e ajudar em tarefas como escrever uma petição ou resumir um processo.
Dos 30 mil assinantes da Jusfy, 10% já assinaram também o JusProcessos, que é vendido como um ‘add-on’ na plataforma. Já o JusGPT, que por enquanto é gratuito, tem sido usado por 15 mil usuários diariamente.
Bagolin disse ao Brazil Journal que a rodada de hoje vai ser usada para desenvolver essas duas soluções – as grandes apostas da startup para os próximos anos.
A médio prazo, a visão da empresa é construir “um copilot do advogado”, que permitiria reduzir em 50% o tamanho dos escritórios de advocacia, diminuindo os cargos juniores.
“Em um ou dois anos, queremos ter um produto que funcione assim: ‘Seu último processo foi uma sentença, o próximo passo é a apelação. Você quer que eu faça para você’?” disse Bagolin.
“70% do custo dos escritórios são as pessoas, a base da pirâmide, e esses advogados são lentos, demandam muito treinamento e quando ficam bons saem e criam o escritório deles. O copilot vai ser uma opção a isso.”
Outro plano: usar os dados que a Jusfy tem de seus advogados-clientes para criar uma fintech.
“Os advogados em geral são marginalizados pelos bancos porque eles não têm receita recorrente, às vezes não têm receita declarada e muitas vezes entram com ações contra os bancos,” disse Bagolin. “Esses caras estão bancarizados nos bancos públicos, mas nesses bancos fazer o billing, a cobrança mensal, é uma tarefa homérica. E 87% dos advogados não tem um departamento financeiro.”
O fundador disse que dos 30 mil clientes da Jusfy, 23 mil pagam a assinatura com o cartão da pessoa física. “Nossa ideia é fazer o billing pra eles dentro da Jusfy e dar um cartão PJ a eles.”
A união da IA e da fintech vai permitir também que a Jusfy consiga oferecer uma solução de antecipação de recebíveis, com base nos processos que os advogados têm em andamento.
Bagolin diz que quando a IA estiver madura, ela vai poder dar informações sobre como cada juiz julga, quanto tempo cada um demora e os valores que eles dão para cada tipo de ação. “Com isso, vou ser capaz de colocar um preço em cada processo e antecipar aquele valor,” disse.
No ano passado, a Jusfy fez uma receita de R$ 18 milhões. Para este ano, a expectativa é pelo menos dobrar de tamanho. “Mas se a fintech der certo, ela pode virar até maior que a nossa operação de SaaS.”