O sector das telecomunicações em Angola tem Estado a mais, admitem dois dos responsáveis presentes na mesa-redonda do VII Fórum Telecom Expansão. Quanto aos restantes, acabaram por remeter-se ao silêncio.
Para o administrador executivo da Angola Cables, Rui Faria, há, claramente, Estado a mais na indústria das telecomunicações do País, já que é player, regulador e chega a definir algumas políticas relativamente a investimentos.
“O mercado precisa de se desenvolver por si próprio e de acordo com as regras de mercado. O Estado teve um papel fundamental na criação de condições e até de investimento em infraestruturas, ninguém na altura conseguia fazer isso. O Estado é que fez isso. Mas hoje, infelizmente, tendo em conta a situação que está aqui espelhada nestas empresas, à excepção da Paratus, efectivamente o Estado está muito interventivo. “E eu penso que isso não será bom se nós efectivamente quisermos dar um pulo digital como nós pretendemos”, sublinhou.
Ainda assim, Rui Faria considera que é normal o Estado continuar a estar presente na indústria, como, por exemplo, ao nível da formação de capital humano no País, mas deve sair do negócio em si. “Apesar de nós termos universidades privadas, elas ainda não conseguem fornecer a mão-de-obra que, efectivamente, a nossa indústria precisa, temos de a ir buscar aos institutos e às universidades do Estado. Portanto, o Estado vai continuar sempre a estar presente em determinadas áreas. Em termos do negócio, de orientação de negócio, gestão de negócio, decisão de negócio, efectivamente devíamos ter mais empresas privadas, devíamos ter outro tipo de empresas a fazerem parte, por exemplo, das estruturas accionistas das nossas empresas, porque isto também faz desenvolver a própria indústria”.
Deu como exemplo a África do Sul. “É um mercado desenvolvido a nível das telecomunicações porque quem determina e quem define o progresso das telecomunicações são as empresas privadas, não são as empresas do Estado. Existem empresas do Estado, é verdade, mas as privadas são as que efectivamente definem muito, digamos assim, o que eles chamam de shape do mercado”, sublinhou.
Por outro lado, Francisco Pinto Leite, PCA da ITA – Paratus defende que é o dinamismo das empresas privadas que deve contribuir para a aceleração de todo o ecossistema Telecom. “E talvez estejamos a ressentir um pouco dessa, entre aspas, estatalização do sector. Mas compreendemos também que talvez seja circunstancial e eu creio que haverá planos para se melhorar esse ambiente, assim como, por exemplo, um plano mais lá para frente de, eventualmente, criarmos o próprio órgão regulador, de ser um órgão mais independente, mais fora do sistema político”, disse o responsável praticamente no final da mesa-redonda. Quanto aos restantes, apesar do “convite” do director do semanário Expansão para falar do papel do Estado no sector, remeteram-se ao silêncio.