Quando e como surgiu a ideia do Show do Mês?
O Show do Mês é um produto da Nova Energia e surgiu em 2014, mas começou a ser idealizado em 2012. Nós tínhamos acabado de editar o disco “As Nossas Palmas”, da Banda Maravilha, que já trabalhava connosco há oito anos, e estávamos a tentar editar, para fazermos um tour levando o semba para outras regiões que não têm semba. Porque o País tem várias expressões e matrizes culturais. E, para nós, levar o semba para o leste, por exemplo, tem uma característica muito boa. Nesse período, tive um encontro com o Waldemar Bastos e ele disse-me uma coisa muito interessante, “como era importante o silêncio na música”. E, em 2012, todos eram ricos, havia um boom económico. Era também o tempo das galas, ou seja, todos os sítios tinham comida, bebida e música. E nós falávamos sobre o silêncio. E não havia salas, nem silêncio para se cantar
A ideia era produzir um evento sem comida?
A primeira questão foi criar um concerto que não tinha buffet e depois resgatar os músicos que tinham obra garantidamente feita durante várias gerações e que estavam sem palco, porque começou a emergir uma série de músicos novos, naquela altura, mas determinados músicos passaram a estar mais para a prateleira porque tínhamos tido um apagão do que é que tinha sido feito no passado. Então, voltámos a dar o conceito de concerto. Foi aí que nasceu o Show do Mês. De 2012, trabalhamos para 2014, em Janeiro, começarmos o projecto.
Que balanço faz dos 11 anos? As expectativas têm sido correspondidas?
Acho que a gente não correspondeu às expectativas. Acho que as expectativas passaram por nós. Ou seja, nenhum de nós, os fundadores, nem aqueles que hoje estão no projecto, alguns já saíram, pensámos que poderíamos perdurar. Ter atingido o ponto de ser alguma referência dentro da cultura nacional, dentro da história dos espectáculos nacionais. Por causa, principalmente, de um aspecto importante, a regularidade. O compromisso e o factor de qualidade como sendo um padrão a atender. Isso foi, para nós, importantíssimo.
O Show do Mês tem características próprias?
Então, coisas muito fortes que ficam marcadas nisso de atingirmos alguma coisa. O rigor, o horário. Em 11 anos, a gente nunca atrasou um espectáculo. Ou seja, o show passado, atrasámos 4 minutos e pedimos desculpas às pessoas. O rigor está em tudo aquilo que a gente se propõe fazer. Desde a escolha dos repertórios, à escolha dos músicos e dos instrumentistas. A escolha de toda a produção que vai existir dentro dos conceitos que são criados. O compromisso de anunciar aquilo que vai acontecer, não aquilo que poderá acontecer. E, principalmente, uma coisa de que a gente tem muito orgulho, de ter criado uma legião de pessoas que se identificam com o produto e que se auto-intitulam também showistas. Isto, aliado à questão de que as pessoas confiam no produto, faz-nos ter medo de os defraudar.
Qual é o vosso diferencial no mercado?
Bem, o rigor para nós é um motivo de orgulho, digo sinceramente. E sermos os únicos a ser rotulados pelo rigor, até parecemos seres estranhos no mercado. Mas há características, como a questão da qualidade do produto. O facto de nós, por exemplo, sermos os primeiros produtores a usar cordas, violinos nos espectáculos. Voltamos a ter um naipe dos metais angolanos nos espectáculos. Somos extremamente arrojados tecnicamente e exigimos isso. Começámos a juntar instrumentos de percussão tradicionais com instrumentos convencionais e instrumentos clássicos. E isso levou as pessoas e os músicos a desafios muito grandes.
Há algum critério na escolha do estilo musical?
Há sim. O Show do Mês começou sempre com o critério de levar músicos que tenham obra feita. Não é que estejam a bater. Não é um projecto comercial. Tem, sim, músicos que possam estar a fazer sucesso, como já tivemos muitos. Mas o principal é ter uma obra garantida e ser ecléctico. Nós temos de ter a capacidade de ouvir semba, como também tchiyanda. Quase todos os grandes músicos já passaram pelo Show do Mês, uns com obra, outros sem obra, mas que tenham também talento. E há também essa responsabilidade de longe lançarmos músicos que tenham talento, mas que não estejam ainda no auge da sua carreira.
E o kuduro passa pelo palco do Show do Mês?
Ainda não passou. O kuduro e o rap ainda não estiveram no palco.
Há perspectiva de levar o kuduro ao vosso palco?
Sim, estamos a discutir, principalmente agora que nós vamos fazer a 12.ª temporada dos 50 anos de Independência, acho que há vectores muito próprios que podem estar. Nós podemos fazer uma passagem pelo kuduro, mas tudo também depende daquilo que é o público que se construiu. O Show do Mês é de angolanos para angolanos, é ecléctico dentro da sua forma de estar. Mas temos também de olhar para o tipo de público, se está ambientado, querendo participar de uma coisa dessas, porque temos aqui uma responsabilidade. Não é só ter um palco para mostrar angolanidade, é ter um palco também que respeita o seu público.
Têm um público fiel?
Temos um público muito fiel, 60% do público é o mesmo há muitos anos.
Qual costuma ser a média de participantes?
Devido às dificuldades financeiras, este ano foi o mais difícil do Show do Mês. Nós tivemos de sair das tradicionais noites de sexta e sábado para uma noite só, para podermos comportar os custos do evento. Mas nós temos uma média de 500 pessoas directas e, indirectas hoje, porque a pandemia foi um ponto importante de reinvenção do próprio show, fomos para a televisão e ainda outras espalhadas pelo YouTube.
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