Os custos de produção em Angola são elevados e continuam a ser um dos principais entraves à actividade económica e ao investimento privado nacional e estrangeiro, situação que é agravada pelas deficiências nas infraestruturas e no acesso a serviços técnicos essenciais. Este contexto pressiona o custo final dos produtos feitos em Angola e retira competitividade à economia do País, situação que também se verifica no sector agropecuário: segundo as associações de produtores nacionais, um quilo de frango produzido em Angola custa, em média, 4.000 Kz, mais do triplo dos 1.150 Kz praticados no Brasil, país de origem de boa parte das importações deste tipo de produtos
Os elevados custos de produção e de operação em Angola são alguns dos elementos que justificam a baixa produção local de aves, realidade que tem motivado as elevadas importações de frango e dos sub-produtos associados, que custaram 317 milhões USD em 2024, segundo a Administração Geral Tributária (AGT). O preço final do quilo de frango produzido em Angola fica também acima dos 2.736 Kz praticados em Moçambique (ver página 4), segundo um documento produzido em Setembro de 2024 pela Associação Agropecuária de Angola (AAPA), Associação Nacional dos Avicultores de Angola (ANAVI) e Associação de Empresas de Comércio e Distribuição Moderna (ECODIMA).
De acordo com as empresas privadas que actuam neste sector, o nível médio de poder de compra dos angolanos também está abaixo da realidade moçambicana ou brasileira, sobretudo no que diz respeito ao salário mínimo, que está acima dos 250 USD no Brasil, ronda os 90 USD em Moçambique e vale apenas 76,7 USD em Angola.
Para contornar esta realidade de altos custos de produção e preços desalinhados com o poder de compra da maioria dos cidadãos (em Angola existem, actualmente, mais de 11 milhões de pessoas em situação de pobreza), as três associações referidas propuseram ao Governo a constituição de uma parceria público-privada, chamada “Consórcio Nacional de Frango”, para juntar no mesmo espaço as instituições públicas e as empresas nacionais dos sectores agropecuário, indústria e distribuição alimentar.
“Como é que nós temos tanta gente na fileira, tantas empresas estabelecidas [12 grandes produtores e 120 PME – Pequenas e Médias Empresas] e não conseguimos produzir em maior escala?”, questiona de forma retórica Marcelo Pereira, produtor agro-industrial de ração, frangos e ovos e coordenador do Consórcio do Frango Nacional na AAPA. “Por uma simples razão: porque, realmente, todas essas forças produtivas actuam de forma individualizada”, responde o especialista.
Estratégias falhadas
Ao longo do tempo, o Governo já estudou e procurou implementar várias estratégias para desenvolver o sector privado, primeiro com a identificação de sectores prioritários e a disponibilização de estímulos direccionados, depois com o envolvimento e implementação do próprio Estado.
“Finalmente, entramos na era do mercado. Tive conversas com ministros, que ocupavam postos importantes ao nível do pensamento estratégico no Governo, e eu disse-lhes várias vezes que o problema é estrutural. A resposta foi sempre que o mercado vai resolver, que o mercado vai-se autorregular. Mas a única forma de a produção avícola em Angola se autorregular é pela oferta consistente de matérias-primas. Não me parece que a gente vá conseguir fazer isso no curto prazo. Nós precisamos de criar um ambiente macroeconómico que ainda não temos e que deve ser induzido”, explica Marcelo Pereira.
No fundo, as associações de produção de aves defendem a criação de uma estrutura que promova a produção de grãos de milho e soja para garantir a ração animal, associada à constituição de uma reserva nacional e à fixação dos preços destes produtos para garantir, sem disrupções e sazonalidade associada à colheita, o alimento das aves em fase de produção.
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