Depois de entregar a independência a Angola, Portugal cometeu um dos erros mais graves da história recente ao abandonar o país nas condições em que o fez. O processo de descolonização não foi apenas apressado, foi negligente, irresponsável e, em muitos aspectos, catastrófico.
Por Malundo Kudiqueba
Angola, em 1975, era uma nação com imenso potencial, mas ainda profundamente dependente das estruturas administrativas, económicas e sociais deixadas pelo colonizador. Ao conceder a independência de forma abrupta e entregar o poder ao MPLA, Portugal falhou em assegurar uma transição gradual que garantisse a funcionalidade das instituições e a transferência adequada de conhecimentos. Esse abandono precipitado atirou Angola para uma guerra civil devastadora que manchou a história de ambas as nações.
Portugal deveria ter permanecido em Angola por pelo menos mais duas décadas, liderando um processo de transição gradual que preparasse os angolanos para gerir o seu próprio país. Essa permanência não significaria a continuação do colonialismo, mas sim uma parceria estratégica para assegurar que Angola pudesse erguer-se como uma nação soberana e próspera. Os angolanos necessitavam de formação, de conhecimento técnico e de apoio na criação de estruturas de governação estáveis. Abandoná-los sem essa preparação foi um acto de negligência histórica.
Foi um erro profundo que Portugal não tenha assumido a responsabilidade pelo futuro de Angola de forma consistente e comprometida. A pressa em partir deixou um vazio que rapidamente se transformou em caos e sofrimento.
É inegável que Portugal tinha os seus interesses. Ao entregar a independência ao MPLA, um partido que alinha as suas ideologias com o bloco socialista da época, Portugal tentou proteger certos ganhos políticos e económicos. Mas a que custo? O preço foi pago em vidas humanas, em décadas de instabilidade e na desconfiança que ainda hoje paira entre os dois povos.
A transição não deveria ter sido uma abdicação de responsabilidade, mas sim um exemplo de como reconstruir uma relação baseada em solidariedade e progresso. Em vez disso, Portugal deixou Angola à mercê de forças internas e externas que não estavam preparadas para lidar com o peso da soberania.
Se Portugal tivesse conduzido este processo de forma competente, tanto portugueses quanto angolanos teriam saído a ganhar. A história poderia ter sido diferente: uma Angola forte, desenvolvida e soberana, com uma relação de cooperação saudável com Portugal, baseada em respeito e benefícios mútuos. Em vez disso, todos ficaram a perder. Angola perdeu a paz, o desenvolvimento e a esperança; Portugal perdeu a oportunidade de construir uma relação estratégica com uma nação rica em recursos naturais, minerais e hídricos.
A irresponsabilidade portuguesa no processo de descolonização de Angola é uma ferida que ainda não cicatrizou. As marcas desse erro são visíveis na pobreza, na corrupção e na instabilidade que persistem até hoje.
Este é um dos momentos em que a história exige reflexão e honestidade.
A descolonização poderia ter sido um exemplo de transição bem-sucedida, mas tornou-se um caso de estudo sobre como não conduzir um processo tão sensível. O preço desse fracasso ainda é pago por gerações de angolanos.