Desflorestação, queimadas, caça furtiva, conflito homem-animal e alterações climáticas são os principais desafios ao património natural em Angola, segundo o Presidente angolano, general João Lourenço, que defendeu mais apoios internacionais para travar a perda de biodiversidade. Em síntese, o que andou o MPLA a fazer durante 50 anos?
João Lourenço, igualmente (entre outras coisas) presidente do MPLA e Titular do Poder Executivo, discursou hoje em Luanda no início da Conferência Internacional sobre Biodiversidade e Áreas de Conservação, que termina na sexta-feira.
O chefe do executivo disse que o Governo, com apoio de fundos internacionais, tem dedicado esforços para a melhoria da conservação, implementando projectos para melhorar a gestão das áreas protegidas e iniciou um processo de repovoamento animal, com girafas reintroduzidas nos Parques Nacionais da Quiçama e do Iona. Já para não falar, presume-se, do repovoamento e rejuvenescimento social do país, nomeadamente de Luanda, com a inclusão de 20 milhões de pobres.
Entre as actividades ligadas ao fortalecimento das áreas de conservação, o general João Lourenço apontou o levantamento da fauna nos parques nacionais, construção de postos de fiscalização, aumento do número de fiscais, mapeamento das áreas de conservação, desenvolvimento de ecoturismo, etc.
“A conservação e protecção da biodiversidade é um imperativo global para a saúde do nosso planeta”, sublinhou, notando que a perda da biodiversidade coloca em risco a segurança alimentar, a qualidade da água e o combate às mudanças climáticas.
“Cada país tem o dever de contribuir, mas é igualmente importante que os esforços sejam coordenados e que os países em desenvolvimento recebam apoio técnico e financeiro para enfrentar os desafios que ameaçam o nosso património natural”, acrescentou.
O general João Lourenço disse que a biodiversidade em Angola, com cinco mil espécies de plantas, das quais 1.200 endémicas, é “uma das mais importantes de África e do mundo” e que as autoridades têm estado a implementar políticas concretas relativamente à conservação, preservação e uso sustentável dos recursos do país.
O país abriga ecossistemas únicos e espécies emblemáticas, como a Palanca-Negra-Gigante e a Welwitschia Mirabilis, “uma planta que desafia o tempo com a sua resiliência no deserto do Namibe” (graças, obviamente, ao MPLA), salientou o chefe de Estado, destacando também a localização geográfica que confere um papel estratégico nas rotas migratórias de espécies importantes, como os elefantes africanos e diversas aves aquáticas.
Angola pretende expandir as áreas de conservação de 13% para 16%, tendo sido propostas novas áreas nas províncias do Huambo (Morro do Moco), Kwanza Sul (floresta da Cumbira) e Uíge (serra do Pingano).
“Ainda este ano, teremos a primeira área de conservação marinha na costa da província do Namibe, bem como a primeira reserva da biosfera, que se estenderá do Parque Nacional da Quissama ao mar”, prosseguiu.
Angola tem actualmente 14 áreas de conservação terrestres das quais nove parques nacionais, um parque regional, duas reservas naturais integrais e duas reservas parciais.
A nível nacional onze zonas húmidas foram aprovadas pela Assembleia Nacional em Julho de 2016, para serem candidatas a Sítios Ramsay de Importância Internacional.
Em Abril de 2024, a ministra do Ambiente, Ana Paula de Carvalho, reafirmou em Washington, EUA, o compromisso de Angola com a preservação dos recursos naturais, especialmente os 585.949 km2 de floresta do Miombo que cobre quase metade do território angolano. Uma das espécies raras destas florestas é o “Pepsis fabricius JLo”…
Ao intervir na Conferência Internacional sobre a Floresta do Miombo, a governante ressaltou não apenas a importância dessas florestas, assim como o seu papel vital na protecção de espécies endémicas, como a Palanca-Negra-Gigante, considerada um dos símbolos nacionais.
Na ocasião, o Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, co-anfitrião do evento, expressou o desejo da conferência de Washington poder ser um catalisador para discussões essenciais sobre transição energética, gestão de recursos hídricos e florestais, bem como a conservação da biodiversidade.
De acordo com o estadista moçambicano, é preciso encontrar soluções práticas para garantir a sustentabilidade da Floresta do Miombo para impulsionar o desenvolvimento socioeconómico das nações envolvidas.
Os líderes africanos presentes na conferência reafirmaram o seu compromisso com a preservação ambiental, tendo como uma das principais referências a Declaração de Maputo, que Angola subscreveu.
Esta declaração e o projecto de “Gestão Integrada da Paisagem para Enfrentar a Degradação dos Solos e Aumentar a Resiliência Comunitária nas Florestas Áridas de Miombo-Mopane em Angola”, financiado pelo Fundo Global do Ambiente, são os indicadores das estratégias para abordar os desafios enfrentados pelas comunidades locais.
No fim da conferência foi adoptada uma resolução que enfatiza a importância de mecanismos alternativos de subsistência para as comunidades que dependem das florestas do Miombo, além de promover uma gestão participativa desses recursos naturais.
Com quase 2,7 milhões de km2, a Floresta do Miombo é vital para o sustento de mais de 300 milhões de pessoas em toda a África Central e Austral, tornando imperativo um esforço conjunto para sua protecção e manejo sustentável.
A Conferência Internacional sobre a Floresta do Miombo é um evento de alto nível que envolve a participação dos líderes africanos comprometidos com a sustentabilidade ambiental.
Co-organizada por Moçambique, o Grupo ICC, a Wildlife Conservation Society e o Rainforest Trust, o certame representa um marco na colaboração internacional para a conservação ambiental.
Recorde-se que, em 2019, investigadores de várias nacionalidades anunciaram a descoberta em Angola (onde mais poderia ser?) de uma nova espécie de tarântula, com o nome científico “Ceratogyrus attonitifer”, mas que também ficou conhecida, dadas as características, por “chifruda”, indica um estudo publicado na revista African Invertebrates.
Segundo o estudo, a tarântula habita maioritariamente na zona da bacia do rio Okavango, que atravessa o sudeste de Angola, o nordeste da Namíbia, e entra pelo norte do Botsuana, não é venenosa para os seres humanos e já convive com os povos tradicionais da região há centenas de anos.
A aranha tem uma característica que lembra um chifre, que vai da parte de trás da cabeça e se estende por quase todo seu corpo, e o seu nome, “attonitifer”, deriva do latim e significa “portador de espanto”.
“A nova espécie de ‘Ceratogyrus’ descrita é notável. Nenhuma outra aranha no mundo possui uma protuberância semelhante”, escrevem os autores no estudo, que indicam que o invertebrado tem apenas alguns centímetros de comprimento e se alimenta sobretudo de insectos.
A tarântula pertence ao grupo “Ceratogyrus”, também conhecido como “aranhas babuíno com chifres”, algumas das quais têm elevações na cabeça.
“As parentes da nova tarântula são, no entanto, menores, com os ‘chifres’ mais duros. A saliência é macia e mais longa do que a de outras espécies, tornando-a única”, acrescenta-se no estudo.
Segundo os investigadores, os povos tradicionais de Angola já conheciam a espécie, chamando-a de “chandachuly”. A experiência com este aracnídeo proporcionou conceitos fundamentais na biologia e estilo de vida.
Entre 2015 e 2016, os investigadores recolheram espécimes femininos do bicho nas florestas de Miombo, género de árvore que inclui um grande número de espécies nas regiões leste e sudeste de Angola, descobrindo que as fêmeas tendiam a ampliar as tocas já existentes, em vez de cavar tocas novas.
Além disso, a tarântula é venenosa, mas não é perigosa para os seres humanos.
Segundo o estudo, houve relatos de mortes relacionadas com picadas do invertebrado, mas acredita-se que terão sido as infecções e o pouco acesso a cuidados básicos de saúde que provocaram os óbitos.
A pesquisa faz parte do National Geographic Okavango Wilderness Project, programa que espera entender melhor a biodiversidade ao longo do Rio Okavango e da respectiva bacia.
O estudo mostra que o alcance das “aranhas babuíno com chifres” é grande, estendendo-se por quase 600 quilómetros.
O próximo passo, segundo os investigadores, iria incidir nos machos adultos, bem como por tentar compreender melhor a relação entre “Ceratogyrus attonitifer” e outros membros do género.
Muitas outras espécies na região
Um mês depois da morte de Nelson Mandela não pararam de surgir homenagens à sua memória. Desta feita, a uma nova espécie de lagosta que foi descoberta na costa da África do Sul os cientistas deram o nome do antigo líder sul-africano.
A lagosta representa uma descoberta para a comunidade científica já que não é muito similar a um crustáceo da mesma espécie. Encontrada na costa da África do Sul em 2011 permaneceu durante anos sem uma denominação científica. No entanto, após a morte de Nelson Mandela os cientistas decidiram fazer-lhe uma homenagem e baptizaram a lagosta com o seu nome – Munidopsis Mandelai (nome científico).
A lagosta, que tem várias semelhanças com um caranguejo, foi descoberta por Diva Amon, uma estudante de doutoramento do Museu de História Natural, em Londres.
“Descobrimos a nova espécie inesperadamente, durante uma investigação subaquática à madeira e ossos de baleia no monte subaquático no sudoeste do oceano Índico, uma área inexplorada”, explicou Diva Amon, citada pelo Daily Mail.
A nova espécie de lagosta foi encontrada a uma profundidade de 750 metros e tem uma carapaça de apenas sete milímetros. “A descoberta é outro exemplo de como a exploração das águas profundas continua a revelar os mistérios dos ecossistemas subaquáticos”, concluiu a investigadora.
Embora não seja para já, pelo menos assim esperam os cada vez menos (pudera!) indefectíveis e ortodoxos homens do ex-Presidente angolano, tudo leva a crer que os cientistas irão um dia destes fazer aprofundados estudos em alguns dos nossos rios para confirmar o que há muito se suspeitava sobre a existência de uma desconhecida espécie de jacarés. Crê-se, embora ainda sem base científica, que essa rara espécie é de cor preta e vermelho-rubro, ostentando no dorso uma roda dentada e uma catana.
Os dados preliminares, recolhidos ao longo das últimas quatro décadas, permitem concluir tratar-se de um tipo de jacarés com elevado quociente de inteligência, pois só se alimentam de seres humanos considerados de segunda categoria, para além de respeitarem democrática e solenemente a escolha da ementa dos tratadores.
Embora se desconfiasse que a espécie existe há muitos anos, só em 2017 (antes das eleições) foi possível confirmar, através de insuspeitos testemunhos, que esses jacarés têm uma especial predilecção alimentar por cidadãos que antes tenham estado detidos e tenham sido torturados.
Na posse destes elementos testemunhais, os cientistas vão logo que possível procurar “in loco” outras provas, podendo para isso contar com o apoio táctico e logístico das forças de segurança do país, elas próprias exímias na manutenção e sobrevivência desta espécie.
Embora existam muitos nomes passíveis de serem dados a estes jacarés, é tradição os cientistas respeitarem escrupulosamente a hierarquia política da pátria dos animais, pelo que à espécie deverá ser dado o nome Crocodylus Eduardo dos Santos.
Mais recentemente, um novo estudo revelou que os marimbondos são odiados e as abelhas amadas. Nada de mais errado, segundo um subcomité da especialidade do MPLA, cujos especialistas dizem que a má fama dos marimbondos é injusta, porque eles são tão importantes para o meio ambiente quanto as abelhas.
Os responsáveis pelo estudo sugerem que se faça uma campanha de marketing para mudar a imagem dos marimbondos junto da população – a má reputação, segundo os pesquisadores, está relacionada ao pouco conhecimento do papel desses insectos na natureza.
Uma das responsáveis pelo estudo, Seirian Summer, da universidade britânica UCL (University City of London), brinca que os marimbondos sofrem com a falta de “um bom relações públicas ou de um assessor de imprensa”, admitindo-se – na altura – que no caso de Angola o problema se resolveria com uma ajudinha do então ministro da propaganda, João Melo. Se isso for conveniente para os actuais donos do país.
Seirian Summer descobriu, também, que praticamente não há pesquisa sobre os impactos positivos dos marimbondos no meio ambiente.
Embora não exista, por enquanto, uma decisão, os cientistas do MPLA admitem que a espécie de marimbondo revelada pelo Presidente da República, João Lourenço, durante a sua visita a Portugal, possa vir a chamar-se, cientificamente, “Pepsis fabricius JLo”.