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Por: Carlos Carvalho
Este, scritu inda ano passado, devia ser o último capítulo de uma viagem a “Lisboa-Africana do séc. XV a XXI”, de Isabel Castro Henriques (ICH),
Mas, não vai ser.
Estando nas terras lusas, resolvi retomá-lo, esperando não vos “maçar” com esta longa viagem… E…já lá vão três artigos!! Virá o ultimo capítulo. É uma espécie de recensão crítica a obra, o que não temos o hábito de fazer, aqui, na nossa tapadinha.
Por exemplo, gostaria de fazer a leitura crítica à polémica obra de meu amigo Brito Semedo. Má, nó tapadinha é pikinooooooti!!! Se estraga amizade por pequena causa!!!
Mas, vamos ao que interessa…a interessante obra de ICH, pois, nos ajuda a compreender um pouco mais de nossa história.
E…é ki…du k sá tá odja…li Amadora…pundi k sta…sá tá lenbran só Lisboa di kel tenpu.
A verdade é que sem se compreender a vida da Lisboa-Africana, entre séc. XV a XIX, dificilmente compreenderão o que trarei das minhas leituras de CH.
A História
Foi importante o papel que o negro (escravo ou forro) desempenhava numa sociedade escravocrata, como fora a capital do império, Lisboa, nos séculos tratados na obra em referência.
Negros: calafetando navios, caiando, “pilotando” embarcações; toureiros, tocadores de tambores, de gaitas;
Negras: aguadeiras, vendendo tremoços e outras iguarias;
Negros e negras, tocando, dançando, não se sabendo que género musical (importante isto, para a próxima crónica), participando em cerimónias religiosas; alguns proprietários de “casas-de-má-vida”; alguns participando até da “vida politica”.
O negro foi sempre um sujeito activo na vida da capital do Reino…contribuindo para o que é, ainda hoje, a sociedade portuguesa.
Basta djobi…sen isforsu, diga-se de passagem, a “fisiogronomia” do português para rapidamente descobrir traços negros na sua ascendência.
Pois, trouxe todo este palavreado, que vem dos dois primeiros artigos, para o que segue.
Lisboa x Cidade de Santiago
Lisboa dos 1os séculos do livro de Castro Henriques é, em escala, claro, muito maior, igual à nossa pequena urbe, Cidade-de-Santiago de Cabo Verde. Como foi construída a Lisboa, dessa altura, assim foi construída a nossa Cidade. Casas Senhoriais, igrejas, conventos, Catedral, alfândega, pelourinhos, fortes, fortins, tudo o que existia na Metrópole, fora igualmente edificado na nossa antiga-Cidade.
Igualmente, fontes, tabernas, “casas-de-outras coisas” também existiam na nossa Cidade, apesar de tão pequena que era. Vendia-se…e se comprava…tudo o que era vendável e comprável: água; gado caprino e bovino; urzela e outros produtos; até homens=escravos!!
Como foi construído o Património Material e Imaterial, na Metrópole, assim foi construído o que constitui, hoje, o Património Material (edificado) e Imaterial do povo caboverdiano, sempre com importante contributo do negro, escravo ou foro.
O que temos, hoje, na nossa Cidade Velha, em termos do edificado, infelizmente, é a caricatura do que fora nossa rica e imponente cidade do séc. XV à XVII. As gravuras dos 1°s séculos falam por si!!
Mas, ficou o mais importante, a nossa cultura imaterial, a nossa alma.
Desde logo, o que mais nos identifica, a nossa língua-nosso património maior.
Decidi, neste capítulo, que era para ser de fecho, abordar dois aspectos que considero de revisitar…não para polemizar, mas para reflexão. É que percorrendo a Lisboa-Africana, da Isabel, obrigou-me a reflectir.
Não para pôr mais acha à fogueira, mas por dever de ciência…questionar!!
Escolhi dois aspectos da nossa cultura imaterial: a nossa Língua-materna e a Morna.
Mas, antes de tentar “descontruir o construído”, paradoxalmente, vou tentar “descontruir outro construído”.
Desde os 1os dias de nossa vida profissional, pós-formado, que aprendemos a construir e a “vender” uma narrativa em relação à nossa Cidade, hoje, Património do Mundo. Ainda hoje, assisto a esta venda de um produto, pouco vendável/recomendável.
Nas visitas de nossos hóspedes (visitantes oficiais e o comum turista), vendemos, com orgulho, o nosso património edificado: a Fortaleza, o Pelourinho, etc., etc…tudo património nosso construído, com uma imensa mão-de-obra-negra…grandemente escrava.
Nas nossas narrativas, falamos com orgulho desses monumentos (data de construção; quem construiu; etc.) que existem aos milhares pelo mundo fora, sobretudo o Ocidental.
Contudo, esquecemos de falar do Homem que o edificou; esquecemos do sofrimento de milhares de homens retirados de seu habitat, feito escravo, que “pedra-sobre-pedra” construíram esses edifícios todos, hoje, nosso orgulhosamente património.
Eles (homens livres e escravizados) foram a alma e o pulmão da cidade!!
Foram eles que seguramente mais contribuíram para o que é, hoje, o nosso Património Material e Imaterial.
Posto isto, vamos mesmo ao que me levou à essa incursão pela Lisboa-Africana…o Património-Imaterial…que o negro ajudou a construir na capital do Reino e aqui na nossa minúscula-cidade.
A nossa língua – a origem
É tido como dado adquirido que a nossa Língua Materna, seu pidgin, foi construído aqui nas nossas ilhas. Dado adquirido, trazido pelos nossos melhores estudiosos-linguistas e não só!!
Permitam-me, porém, a seguinte reflexão, pegando na história dos “Descobrimentos”.
“Descobridores” chegaram ao continente nos anos 40, do séc. XV. Gomes Eanes de Zurara descreve, com algum pormenor, “Como Antão Gonçalves trouxe os primeiros cativos” ao Reino (Capitulo XII). Isto no ano 1441-2.
Depois desses 1os serem levados, várias levas se seguiram naturalmente.
É si k stabelesidu kel k entra na Historia sima 1° circuito do comércio dessa época.
Nossas ilhas só são “povoadas” nos meados de 60 desse mesmo século.
Purtantu, passa 2 décadas!!
O número de homens-escravos levados a Metrópole foi aumentando, constituindo, pouco a pouco, uma base societal, integrada… conforme a realidade da época…na sociedade.
Esses negros constituíam a mão-de-obra para todo o tipo de trabalho, em todas as esferas de produção, na “Lisboa-Africana”, como vimos acima. Mas, também eram tocadores de tambores, de gaitas; tá badjaba; ti és tá participaba na cerimónias religiosas; etc., etc.
A pergunta que se impõe é:
Como comunicaram esses homens e mulheres levados a Metrópole, desde 1440, com seus “donos”!!?? Dezenas de anos na Metrópole, não aprenderam os rudimentos do português da altura?? Rudimentos…o pidgin…que lhes permitiram comunicar com seus senhores, realizar as tarefas que lhes eram incumbidos de executar!!
Os “navegadores” não aproveitaram desses negros para as incursões futuras no continente, no escambo, servindo como guias, “tradutores” na “caça” ao escravo e outras riquezas!!??
A igreja não aproveitou desses “infelizes-infiéis” para os “civilizar”, tornando-os cristãos, transmitindo-lhes os rudimentos da língua, o “pidgin”, que décadas depois apropriaríamos e desenvolveríamos aqui nas ilhas??
Assim, o “Pidgin”, teria nascido não nossa ilha-mãe, mas sim na Metrópole. Aqui, na ilha-maior, onde o negro, escravo e foro, constituíra a maioria da população possibilitou-facilitou o afirmar, autonomamente, da nossa língua, fazendo-a a língua materna de todos os caboverdianos, nosso Património-Maior.
Meu argumento é que foi nesse período que mediou a chegada dos 1°s negros na Metrópole e o povoamento efectivo das ilhas que surgiu o que viria a transformar-se na nossa língua-materna.
Esses negros, utilizados na incursão ao continente e que dominavam já esse Pidgin, constituiriam igualmente o embrião dos povoadores da ilha-mãe, trazidos, como serviçais, pelos seus 1os Donatários.
Concluindo
Retocando o texto, fui informado da Conferência que decorria no Palácio do MAMdaN, sobre a nossa Língua Materna.
Obi inda un bon pádás!!
Ciência pura!! É cá achismo di nó pseudo-políticos…que acham que entendem de tudo…até de…Linguística!!
Keli é nha contribuison pá studu di nó Língua.
Escrito, em 24/05/2024.
Revisitado em 02/25.
