São 19h30 de um dia de semana e há duas coisas que não cabem na Meo Arena: mais fãs de Gracie Abrams, que enchem por completo a maior sala de espetáculos do país, e qualquer vestígio de cinismo. Fervilhando de expectativa e entusiasmo, a plateia comparece com pontualidade mais do que britânica e dedica à artista da primeira parte, a talentosa e comunicativa Dora Jar, honras de Estado. É na transição entre o concerto de miss Jarkowski (Jar é abreviatura do sobrenome, de origem polaca) e a chegada da estrela da noite que acontece, entretanto, um dos momentos mais simbólicos do serão. Animadas por uma playlist 100% feminina, as admiradoras de Gracie Abrams cantam acertadamente as letras de gigantes da pop como Ariana Grande e artistas em começo de carreira, como Gigi Perez. Mas é quando Chappell Roan e a canção-prodígio que é ‘Good Luck, Babe!’ rebentam no sistema de som que as cores deste encontro se revelam. Quer as convivas tenham 15 anos ou o triplo dessa idade (e havia muitas duplas de mãe e filha no público, assim como numerosos grupos de adolescentes), há qualquer coisa de irresistível neste misto de vingança & celebração que ‘Good Luck, Babe!’ serve de forma exuberante. A forma como, sem aviso prévio, a Meo Arena se enche de um coro aceso entoando a já mítica tirada “you’re standing face to face with I told you so” mostra que, de uma maneira ou outra, todas já estivemos ali: zangadas por termos tido razão, tristes e saudosas mas sem deixar cair a coroa, prontas para continuar a festa. Estavam lançados os dados para uma noite eminentemente feminina (que nos perdoem os amigos e namorados, pais e ocasionais admiradores da menina Abrams), feita de partilha e intimismo esgrimidos com garra por uma jovem que provou ter aprendido muito com a sua mestra, Taylor Swift, e Olivia Rodrigo, com quem também andou em digressão.