O Presidente do MPLA e que, por inerência também é Presidente de Angola (não nominalmente eleito), general João Lourenço, agradeceu hoje, em Luanda, aos vários países que apoiaram Angola na luta pela independência e alcance da paz, com destaque para a antiga União Soviética, cujo papel foi – diz – determinante na conquista da independência e soberania nacional, bem como na manutenção do MPLA no poder durante 50 anos.
De 1978 a 1982, João Lourenço (ЖОАУ ЛОУРЕНСУ, em russo) ) recebeu na então União Soviética formação militar, tendo-se especializado em artilharia pesada. Nesse país, obteve igualmente o grau académico de Mestre em Ciências Históricas.
Na cerimónia de hoje, num discurso virado para o agradecimento, o general de três estrelas João Lourenço referiu que a atribuição de medalhas da classe de honra a Presidentes e antigos chefes de Estado de vários países, visa reconhecer o seu papel e contributo “determinantes para que a luta de libertação tivesse êxito” e Angola pudesse resistir a 27 anos consecutivos de conflito armado.
João Lourenço referiu que o 11 de Novembro de 1975 foi o dia guardado com mais ansiedade pelo povo angolano e, “sem sombra de dúvidas”, é o dia mais importante da história colectiva de Angola, que marcou o início de uma nova era.
“Com a nossa independência, conquistámos a liberdade e, sobretudo, conquistámos a nossa dignidade enquanto seres humanos e o direito de sermos donos do nosso destino”, referiu. Em abono da sua tese de que o MPLA fez mais em 50 anos do que os portugueses em 500 bem poderia referir os nossos 20 milhões de pobres.
Segundo o general João Lourenço, reconhecer esta jornada e o contributo de todos os angolanos e dos muitos cidadãos, organizações e países estrangeiros que contribuíram nos vários momentos da história de Angola é essencial para se continuar a construir a nação e para se preservar as conquistas alcançadas. Embora sem o dizer de ter-se lembrado que fez os estudos primários e secundários na província do Bié (sem se sentar numa pedra pois as escolas tinham na época, carteiras de madeira) e também na cidade capital, na antiga Escola Industrial de Luanda e no Instituto Industrial de Luanda.
Foram já contemplados com a medalha dos 50 anos da independência nacional nas diferentes categorias cerca de 4.690 cidadãos dos mais diferentes segmentos da sociedade angolana, para declarar que em Angola se valoriza e se reconhece “a bravura, a entrega, a dedicação e o talento dos angolanos em praticamente todos os domínios da vida”.
A atribuição de medalhas é, de acordo com o general João Lourenço, um gesto de reconhecimento e de agradecimento aos povos e países, “pelo inestimável apoio ao povo angolano” nos diferentes momentos da sua história, igualmente uma forma de eternizar estes períodos históricos, “para que as actuais e as futuras gerações os conheçam e os exaltem”.
“Reconhecemos e agradecemos sinceramente a inestimável ajuda dos então chamados países socialistas da Europa do Leste, com destaque para a ex-União Soviética, para não ter de descrever todos, que foi determinante para a conquista da independência e da soberania nacional, sua preservação e consolidação, e pela formação dos jovens quadros angolanos nas suas universidades e academias militares”, disse.
Os agradecimentos foram também para “o povo irmão de Cuba”, o Brasil, primeiro país “a testemunhar o nascimento de um novo país e a reconhecê-lo (…) quando todos preferiam esperar para ver”.
“Agradecemos ainda pela confiança no nosso país, demonstrada pela abertura da linha de crédito do BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Económico e Social] para as infraestruturas, como a Central Hidroelétrica de Capanda, primeira grande barragem construída em Angola independente”, disse o chefe de Estado angolano.
O general João Lourenço sublinhou o apoio da China, que concedeu uma linha de financiamento “com valores substanciais, que permitiram a reconstrução das principais infraestruturas destruídas, como estradas e pontes, subestações e redes de transmissão elétricas, sistemas de produção, adução e distribuição de água, a reabilitação do Caminho-de-Ferro de Benguela, hoje principal activo do Corredor de Lobito, ou ainda a construção de grandes e modernos portos e aeroportos, como o caso do Porto do Caio em Cabinda e o Aeroporto Internacional António Agostinho Neto”.
Em África, referiu os países que acolheram os movimentos angolanos de libertação – Argélia, Marrocos, Tanzânia, Congo Brazzaville e a Zâmbia -, bem como todos os países da chamada Linha da Frente, a Nigéria, pela ajuda financeira concedida nos primórdios da independência e por ter sido, juntamente com a Argélia, um dos primeiros países a dar formação superior no ramo dos petróleos aos primeiros quadros nacionais.
“Um agradecimento particular ao Vaticano pelo gesto do Papa Paulo VI, em ter recebido em audiência os líderes dos movimentos de libertação de Angola, Moçambique e Guiné-Bissau (…), numa mensagem clara para os círculos mais conservadores da Igreja e para o mundo, de que o colonialismo devia cair, dando lugar ao surgimento do país independente das ex-colónias portuguesas”, salientou.
“Não nos esquecemos dos combatentes guineenses que combateram na frente centro e sul, lado a lado com as nossas forças armadas. Uma palavra de reconhecimento e agradecimento vai também para os países que acolheram as diferentes rondas de negociações de paz, começando por Mombaça, no Quénia, Alvor e Bicessa, em Portugal, Brazzaville, no Congo Brazzaville, Franceville, no Gabão, Lusaka, na Zâmbia e, por fim, Nova Iorque, nos Estados Unidos da América”, acrescentou.
Por manifesta e conveniente falta de memória, o general esqueceu-se de dizer que Angola, em 1974, era o terceiro maior produtor mundial de café, o quarto maior produtor mundial de algodão, o primeiro exportador africano de carne bovina; o segundo exportador africano de sisal; o segundo maior exportador mundial de farinha de peixe; por via do Grémio do Milho tinha a melhor rede de silos de África; tinha o CFB — Caminho de Ferro de Benguela, do Lobito ao Dilolo‒RDC, o CFM — Caminho de Ferro de Moçâmedes, do Namibe até Menongue, o CFA — Caminho de Ferro de Angola, de Luanda até Malange e o CFA — Caminho de Ferro do Amboim, de Porto Amboim até à Gabela.
Esqueceu-se que também tinha no Lobito estaleiros de construção naval da SOREFAME; tinha pelo menos três fábricas de salchicharia; quatro empresas produtoras de cerveja, de proprietários diferentes; quatro fábricas diferentes de tintas; duas fábricas independentes de fabricação ou montagem de motorizadas e bicicletas; seis fábricas independentes de refrigerantes, nomeadamente da Coca-Cola, Pepsi-Cola e Canada-Dry, bebidas alcoólicas à base de ananás ou de laranja. E havia ainda a SBEL, Sociedades de Bebidas Espirituosas do Lobito.
Além disso também tinha a fábrica de pneus da Mabor; três fábricas de açúcar, a da Tentativa, a da Catumbela e a do Dombe Grande; era o maior exportador mundial de banana, graças ao Vale do Cavaco; uma linha de montagem da Hitachi, dos óleos alimentares da Algodoeira Agrícola de Angola, e da portentosa indústria pesqueira da Baía Farta e de Moçâmedes, e da EPAL, fábrica de conservas de sardinha e de atum.
Por manifesta e conveniente falta de memória, o general esqueceu-se também que 68% da população angolana é afectada pela pobreza, que a taxa de mortalidade infantil é das mais altas do mundo, com 250 mortes por cada 1.000 crianças; que apenas 38% da população angolana tem acesso a água potável e somente 44% dispõe de saneamento básico.
Esqueceu-se também que apenas um quarto da população angolana tem acesso a serviços de saúde, que, na maior parte dos casos, são de fraca qualidade; que 12% dos hospitais, 11% dos centros de saúde e 85% dos postos de saúde existentes no país apresentam problemas ao nível das instalações, da falta de pessoal e de carência de medicamentos.
Esqueceu-se que 45% das crianças angolanas sofrerem de má nutrição crónica, sendo que uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos; que, em Angola, a dependência sócio-económica a favores, privilégios e bens, ou seja, o cabritismo, é o método utilizado pelo MPLA para amordaçar os angolanos.
Esqueceu-se que, em Angola, o acesso à boa educação, aos condomínios, ao capital accionista dos bancos e das seguradoras, aos grandes negócios, às licitações dos blocos petrolíferos, está limitado a um grupo muito restrito de famílias ligadas ao regime no poder; que Angola é um dos países mais corruptos do mundo e que tem mais de 20 milhões de pobres.
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