Representantes dos pequenos Estados insulares e dos países menos desenvolvidos abandonaram, este sábado (23.11), uma reunião de consulta com a presidência azeri da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP29), em Baku.
A iniciativa visa protestar contra o projeto de acordo financeiro em preparação.
“Abandonámos a reunião (…). Sentimos que não fomos ouvidos”, declarou o representante de Samoa, Cedric Schuster, em nome do grupo de Estados insulares (Aosis), citado pela agência francesa AFP.
Cimeira prolongada
O protesto ocorre numa altura em que a COP29, que deveria ter terminado na sexta-feira, está a ser prolongada sem que se vislumbre qualquer compromisso.
Giulia Saudelli, da DW, que está em Baku, refere que “há um sentimento de que o tempo está a começar a esgotar-se, o que pode jogar contra os países mais vulneráveis”.
“Alguns países em desenvolvimento sentem que não estão a ser ouvidos e que, até agora, não foram suficientemente incluídos nas negociações, uma vez que os países mais ricos falam sobretudo entre si”, afirma Saudelli.
O texto divulgado pela presidência azeri da COP29, na sexta-feira, propunha que o montante a mobilizar do Norte para o Sul Global fosse de 250 mil milhões de dólares (238 mil milhões de euros, ao câmbio atual).
Este valor foi saudado pelos países desenvolvidos, como os Estados Unidos, a Austrália e o bloco europeu, mas rejeitado por muitos estados em desenvolvimento, que o consideraram inaceitável.
Os países em vias de desenvolvimento pedem entre 500 mil milhões de dólares (479 mil milhões de euros) e 1,3 biliões de dólares (1,2 biliões de euros) por ano até 2035.
A verba destina-se a ajudar os países em desenvolvimento a abandonarem os combustíveis fósseis e a adaptarem-se às alterações climáticas associadas ao aquecimento global.
Acordo de Paris “em risco”
Organizações ambientais e sociais presentes na cimeira na capital do Azerbaijão alertaram que a COP29 terminará com um “resultado negativo” se o acordo final não previr um financiamento “público, suficiente e previsível” para os países do Sul Global.
O atual projeto “põe em risco” o Acordo de Paris, pelo que a União Europeia (UE) “tem de agir imediata e eficazmente se o quiser salvar”, afirmaram numa declaração conjunta citada pela agência espanhola EFE.
Segundo as organizações, o resultado será “inamovível nos próximos 10 anos”, ou seja, até 2035, altura em que os compromissos serão revistos.
Assinam a declaração organizações como Ecodes, Ecologistas em Ação, Greenpeace, Youth for Climate ou Oxfam.