Realizou-se em Lisboa, esta terça-feira (28.01), o “Fórum Económico de Alto-Nível”, antecedido pela cimeira bilateral, que juntou delegações chefiadas pelos primeiros-ministros dos dois países, respetivamente Ulisses Correia e Silva e Luís Montenegro.
O Fórum de dois dias, que teve lugar na capital portuguesa, visou fortalecer as relações entre Portugal e Cabo Verde e relançou as oportunidades de investimento e de negócios, tendo constituído momento para a criação de sinergias e parcerias estratégicas entre entidades de ambos os países.
“Portugal continuará a intensificar as relações no plano da cooperação externa”, afirma Marcos Barbosa Rodrigues, presidente da Câmara de Comércio de Sotavento (CCS), para quem os esforços de guerra na Europa não afetarão os compromissos assumidos por Lisboa. O empresário garante que Cabo Verde oferece estabilidade no plano político, mas também a nível cambial e de sustentabilidade, fatores que considera indispensáveis para a atração de investimento estrangeiro.
DW África: Como é que o setor privado avalia os benefícios concretos deste Fórum para o fomento da parceria estratégica entre Cabo Verde e Portugal? Pode-se falar de impacto e benefícios para Cabo Verde?
Marcos Barbosa Rodrigues (MBR): Impactos e benefícios para os dois países. Há realmente aqui um leque de oportunidades que se abrem entre Portugal e Cabo Verde em várias áreas. Portugal é um grande parceiro de Cabo Verde desde sempre e continua a manter uma posição interessante nos investimentos em Cabo Verde. E é nessa perspetiva que Portugal avança com uma série de propostas, que Cabo Verde faz questão [de abraçar], porque nestas questões das parcerias e das relações internacionais, o que importa é que haja um processo “win-win”, quer dizer, que todas as partes tenham benefícios. Foi neste contexto que Cabo Verde e Portugal, no âmbito desta cimeira, desenvolveram o Fórum Económico com parcerias estratégicas no investimento, nas transições energéticas e digital.
DW África: Em que medida saem reforçadas as relações entre os dois países, no atual contexto de guerra que obriga o Governo português a fazer um esforço financeiro maior no âmbito da União Europeia e da NATO? Isto não vai afetar as tais relações?
MBR: Não afetará, porque Portugal tem o seu próprio orçamento e saberá afetar os recursos que tiver disponível ou que vier a criar para os investimentos que são exigidos atualmente.
Portugal continuará a manter e a intensificar as relações na cooperação externa, porque há interesses também, a nível empresarial. É preciso que sejam intensificadas essas relações, porque senão as empresas portuguesas acabam por não ter mais mercado, acabam por não ter mais oportunidades, e isso cria constrangimentos ao desenvolvimento de Portugal também. É nessa perspetiva que nós entendemos que Portugal irá continuar na cooperação com os países com quem tem relações estreitas, em particular com os PALOP.
DW África: Considera que este modelo de parceria estratégica tem o mesmo impacto nos outros PALOP? Ou Cabo Verde é um caso particular e exemplar?
MBR: Cabo Verde é um caso que nós podemos considerar exemplar por várias razões, porque, como sabe, as instituições cabo-verdianas são maduras, têm uma responsabilidade grande do ponto de vista da manutenção da democracia e da consolidação das suas instituições públicas. E isto cria confiança, gera uma relação estreita e oferece a Cabo Verde outras amplitudes de relações. Como sabe, os investidores procuram sempre países que lhes oferecem estabilidade, e nós oferecemos muita estabilidade, não só a nível democrático, mas também a nível cambial. A sustentabilidade, do ponto de vista do investimento, está assegurada à partida.
DW África: Podemos dizer que existem instrumentos de seguimento da execução desta parceria para daqui a um ano se poder avaliar os resultados?
MBR: Quando há cimeiras, é porque já houve um batalhão de pessoas que estiveram a trabalhar durante muito tempo a construir metodologias e processos para que haja sucesso a partir daquilo que é lá determinado. Tudo é avaliado hoje em dia, porque onde entra dinheiro têm de entrar avaliações, têm de entrar, enfim, perspetivas de progressos. Não se pode continuar cooperações sem progressos.
É isto que nós esperamos, que daqui a um ano tenhamos novos interesses em cima da mesa para discutirmos e para analisarmos como fazer esta caminhada em conjunto para o desenvolvimento. Cabo Verde goza de várias perspetivas positivas. No mundo atual de tantas incertezas, Cabo Verde continua a ser um mercado interessante para se investir.
DW África: O que vai fazer a Câmara de Comércio depois desta cimeira em Lisboa? Há ações concretas?
MBR: Levaremos aos empresários cabo-verdianos as informações necessárias para poderem entender realmente as oportunidades que irão existir a partir de agora e como é que podem estender as suas oportunidades e poderem ir buscar alguma parte dos financiamentos que são necessários. Além disso, [buscar] a cooperação com as empresas portuguesas para poder alcançar novos mercados.
Cabo Verde está no mercado da CEDEAO [Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental] e tem uma pretensão de estar presente em alguns negócios nesse mercado. E poderá ser feita, em parceria com empresas portuguesas e cabo-verdianas, a extensão deste mercado, que é muito apetecível e que tem oportunidades gritantes em todas as áreas de desenvolvimento.
DW África: Neste ano de 2025, quais os principais desafios no plano económico e social para Cabo Verde? E em que medida a Alemanha pode contribuir para tais desafios?
MBR: Cabo Verde, nos próximos meses que seguem e durante este ano, tem grandes perspetivas de desenvolvimento. Há grandes projetos em carteira que estão, neste momento, a arrancar e que podem trazer um desenvolvimento muito interessante. Por exemplo, a construção da Embaixada dos Estados Unidos da América em Cabo Verde, que é um investimento de grande monta e que pode mexer com toda a economia. Mas também estamos a falar do pacote do MCC [Millennium Challenge Corporation], programa dos Estados Unidos da América para o desenvolvimento de Cabo Verde em questões concretas, que já está a ser finalizado. E há várias outras situações que nós estamos, neste momento, a analisar, de privados interessados em investir na área da hotelaria, na área dos transportes, em vários setores e que podem, aqui, criar uma dinâmica muito positiva para o ano de 2025.
A Alemanha, naturalmente, é um parceiro também fiável, um bom parceiro de Cabo Verde e que tem estado permanentemente em Cabo Verde. A Alemanha tem também espaços para desenvolver os seus negócios em cooperação com as empresas cabo-verdianas, com as entidades cabo-verdianas.