Tem focinho de bolha, rabo de bolha… Mas, na avaliação da Goldman Sachs, AI não é uma bolha. Ao menos não por enquanto.
Segundo analistas do banco, há elementos do comportamento dos investidores e da precificação de mercado que lembram bolhas anteriores. “No entanto, observamos diferenças importantes,” escreveram os estrategistas num relatório publicado hoje.
Apesar das semelhanças com a ‘exuberância irracional’ da bolha da internet ficarem cada dia mais evidentes, os estrategistas detalharam o que distingue o atual ciclo de valorização acionária daquele que acabaria explodindo em 2000.
São basicamente três diferenças.
Primeira: a valorização do setor de tecnologia tem sido, até agora, impulsionada pelo aumento das vendas e dos lucros, em vez de especulações irracionais sobre o crescimento futuro.
Segunda: as empresas de maior valuation possuem rentabilidade e balanços excepcionalmente sólidos.
Terceira: o setor de AI tem sido, até agora, dominado por algumas poucas empresas tradicionais, enquanto nas bolhas do passado havia competição acirrada de novos entrantes.
“Bolhas tendem a se desenvolver quando há um aumento combinado nos preços das ações e dos valuations a ponto de o valor agregado das empresas associadas à inovação exceder os fluxos de caixa potenciais,” escreveu o estrategista-chefe global da Goldman, Peter Oppenheimer.
Depois de destrincharem diversos índices – como rentabilidade, preço/lucro e valuation/faturamento –, o time de Oppenheimer concluiu que os preços das ações “ainda não atingiram níveis compatíveis com bolhas históricas.”
É verdade que a relação preço/lucro nos EUA está no pico dos últimos 20 anos e que o mercado de dívida “também parece caro,” disseram os analistas. Mas, de acordo com eles, isso se deve principalmente “às condições gerais de baixas taxas de juros, alta poupança global e a um ciclo econômico prolongado – que elevou o valor de todos os ativos de risco”.
“Isso os deixa vulneráveis a uma correção caso a confiança no crescimento diminua, mas é menos provável que isso seja impulsionado apenas pelo estouro de uma bolha no setor tecnológico,” afirmaram.
Ainda de acordo com o relatório, o múltiplo P/E projetado das Magnificent Seven está em 27x. É cerca de metade do múltiplo das ações mais valorizadas no final dos anos 90.
A relação entre equity value e faturamento também ainda está muito abaixo dos patamares vistos nas empresas dominantes durante a bolha da internet. “Portanto, os valuations estão elevados, mas não em níveis normalmente observados no auge de uma bolha financeira.”
Com relação ao financiamento do capex, boa parte das despesas com investimentos foram bancadas por emissões de ações e dívidas durante o boom da internet. Agora, as Big Techs estão menos alavancadas, bancando largamente o aumento do capex com fluxo de caixa – e “os balanços delas continuam excepcionalmente sólidos.”
Hoje as cinco maiores empresas de tecnologia representam hoje cerca de 16% de todo o valor do mercado acionário global, e as dez maiores equivalem a 25% de todo o valor acionário do planeta.
Concentração? Certamente. Bolha? Não necessariamente, disseram os analistas.
“Existe o risco de acabarmos numa bolha, mas, no geral, ainda não acreditamos que estejamos numa,” concluíram.
Para o time da Goldman, entretanto, isso não significa que os riscos não estejam aumentando. A valorização dominada por poucas companhias e a crescente competição entre as empresas de AI são razões que justificam uma maior diversificação pelos investidores.