Se continuarmos com as metodologias de trabalho antigas, não teremos novos resultados. Se com muito dinheiro que tivemos sem compromisso de pagar a dívida não tivemos bons resultados, não será com pouco, e como se não bastasse com o aumento da densidade populacional que iremos ter.
Por Tomás Alberto
Por vezes pensamos que o problema de Angola é falta de dinheiro, mas não. Já se retirou a subvenção aos derivados do petróleo, fizemos fusão e extinção de alguns ministérios, cortes orçamentais, e agora a retirada de regalias aos gestores públicos; o que era para melhorar, parece piorar a cada dia que passa.
Cada ano que passa contraímos dívidas para fazer as mesmas coisas. Quando ouço falar de bilhões disponíveis para animar a economia, para mim é um déjà-vu, porque sabemos quem irá se beneficiar deste dinheiro, e onde ele irá parar.
É como se fosse algo institucionalizado, assim que uma pessoa é nomeada, é como se lhe tivessem dito, chegou a tua vez de ficar rica à custa do Estado. Após passar alguns meses a pessoa que entrou sem nada, ela e os seus familiares, amigos, amantes e pessoas de sua conveniências, tem tudo e mais alguma coisa, incluindo casas no estrangeiro. Ou seja, depois de algum tempo os gestores estão cheios de dinheiro, e os cofres do Estado vazios.
Trabalhar por conveniência é chocar com o sistema capitalista. O sistema capitalista tem o seu próprio funcionamento, os algoritmos não irão alterar porque trata-se de Angola. Os Angolanos também são obrigados a cumprir as regras do capitalismo. Ou as regras, ou então estarão a consumir grandes quantidades de combustível que a própria máquina por estar parada por conveniência, não produz.
O problema de Angola não é e nunca será falta de dinheiro. A quem diga, que com o dinheiro que os Angolanos tinham, e alguns deles ainda têm, dava e dá para transformar Luanda em Dubai.
No capitalismo, não se resolve problemas fazendo cortes apenas, mas também aumentando a produção interna de bens e serviços. No capitalismo não é o grau académico ou os cargos que determinam o sucesso, mas os resultados, através da compreensão de como funcionam os algoritmos capitalistas.
O capitalismo tem suas regras de funcionamento, se não forem cumpridas geram despesas sucessivamente. Os lobistas no capitalismo existem para abrir portas aos tecnocratas nacionais, estes por sua vez executarem os serviços, e ambos saem a ganhar por cada um dos serviços prestados, trabalhando em cadeia. Os lobistas levam o seu dinheiro onde quiserem, com certeza não será em Angola ; ao passo que o dinheiro dos tecnocratas, que acreditam no potencial deste povo, irá circular entre nós, para alavancar de forma sustentável outros projectos de jovens no qual acreditamos.
A maior riqueza de um país é o seu povo, muitos já ouviram esta frase, mas poucos conseguem decifrar. Os investidores estrangeiros não vêm em Angola por causa dos seus recursos naturais, mas pelo número de consumidores ( povo) que é um bom nicho de mercado para se investir, não só pelo número de consumidores, como também pela escassez de produtos e serviços para alimentar este povo.
Um povo ignorado pelos endinheirados nacionais, em contrapartida são as galinhas dos ovos dourados dos investidores estrangeiros.
Os endinheirados não sabem prestar serviços ao povo, por isso não acreditam nele. Eles só sabem prestar serviço ao Estado, em que por conveniência, em um único contrato de consultoria, ou prestação de serviço que não dá resultados tangíveis, conseguem milhões e milhões de kwanzas. Por isso eles não acreditam que prestando serviços ao povo, é possível ser rico ou milionário. Razão pela qual, não fazem, não dão oportunidade de fazer, e não deixam ninguém fazer. Os seus argumentos de razão são apenas suas convicções.
Falando sobre falta ou não falta de dinheiro para resolver alguma situação, fez-me lembrar o condomínio Atlântico Sul, de todos os condomínios em que eu já frequentei, este continua a ser o melhor de Angola, não só em termos de infra-estrutura, mas como também de espaços estrada, área social, quintais, ruas… neste condomínio as casas custam acima de 1.000.000 de dólares, estando lá diversas vezes constatei a falta de água e luz, e esta situação era recorrente. Uma das pessoas que lá vivem, têm condições financeiras de criar vários furos de água, transformar e tratar água para abastecer o Talatona completo. O mesmo se aplica a uma solução deste nível para o problema da electricidade, mas a situação na altura continuava.
Uma das casas que quando energia fosse em todo o condomínio, mas continuava com energia, era a casa do Engenheiro Dino. Tenho conhecimento de que alguns dirigentes ainda abastecem as suas casas com cisternas de água, com o dinheiro que possuem, cada um deles pode fazer furos de água, ou mesmo transformar água salgada em doce, e distribuir para o Talatona completo. Não estou a falar para nós, falo para eles que vivem lá. Se para eles próprios não fazem mesmo tendo dinheiro, imaginam para nós?
Continuam a achar que é mesmo por falta de dinheiro? A mim me parece que a dificuldade tem sido seguir as regras do capitalismo, onde está guardado o segredo do desenvolvimento sustentável.
No capitalismo a quantidade de dinheiro não resolve problemas, mas as pessoas certas com o dinheiro necessário. Pessoas certas são todas aquelas que mostram resultados, e sabem planificar e executar o que foi planificado a curto, médio e longo prazo.
No capitalismo riqueza é o valor que você agrega aos outros na resolução de problemas, e não o dinheiro que você carrega ou tem.
Se continuarmos com as metodologias de trabalho antigas, não teremos novos resultados, independentemente de termos milhões ou bilhões de dólares; dinheiro que num passado recente, até já tivemos.